Com mais de um ano em pandemia, os brasileiros estão sofrendo psicologicamente, por isso, conversamos com a Gloria S. A. Siqueira, mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Neuropsicóloga para entender como foi e como está sendo o dia a dia do profissional e dos pacientes.
Gloria relata que “no início da pandemia, muitos pacientes foram reticentes na modalidade de atendimento online. Preferiram dar uma pausa, esperar o cenário melhorar para retomar de modo presencial. Contudo, com o passar do tempo, as demandas de trabalho, o manejo da família e de aspectos próprios, obrigaram parte desses pacientes a se adaptarem na tentativa de retomar o processo psicoterapêutico. Essa mudança de setting terapêutico parece ser o que mais mudou. É possível fazer terapia em qualquer lugar, desde que ambos estejam ali conectados virtualmente e mentalmente (com atenção). Com isso, percebo mudança na procura de atendimento. Você pode fazer terapia da sua casa, ninguém vai ficar sabendo – ajudou a derrubar um pouco dos muros da resistência ao tratamento.”
Outro ponto importante que a Neuropsicóloga relata é o aumento na procura pela terapia, “toda semana tem mais pessoas procurando atendimento. No começo da pandemia, estava relativamente igual. Até houve uma redução inicial por questões financeiras ou de não aceitação pelo atendimento online. Após 6 meses, já havia maior procura. Mas após um ano, a busca por atendimentos aumentou absurdamente e as demandas são variadas, desde pessoas que já precisavam de atendimento por tratar depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e etc, mas também de pessoas que desenvolveram quadros clínicos pela mudança de vida ou devido ao COVID-19, como transtorno de estresse pós-traumático.”
Em diversos programas de televisão vemos o aumento de ansiedade na população durante a pandemia, e isso não foi diferente do relato da profissional, que diz que o aumento foi expressivo em pacientes com transtornos de ansiedade: TAG (transtorno de ansiedade generalizada), transtorno do pânico e fobias (principalmente de agulha) por conta dos exames, vacinas, e etc.
Ela ainda destaca que “quem já era ansioso pela correria do cotidiano, acabou aparecendo na psicoterapia com exacerbação dessa ansiedade”
Diversas pesquisas apontam o crescimento de depressão e ansiedade na pandemia, e até mesmo o Google Trends (ferramenta de busca do Google) mostra que o número de pessoas que buscam por terapia aumentou repentinamente desde o início da pandemia.
Gloria diz que durante a terapia os relatos se iniciam com ‘estou procrastinando muito’, ‘não estou sabendo gerenciar meu tempo’, ‘não consigo relaxar’. Essa desorganização pela mudança da rotina, hábitos alimentares, sono… Depois é seguido pelo relato das crises de ansiedade por estes pensamentos.
Um dos principais termos que tiveram aumento na quarentena foi “terapia de casal”, a mestre em Psicologia do Desenvolvimento teve contato com os relato de aumento de queixas sobre comunicação entre família – ”na vida moderna ninguém convivia tanto junto, se ver 24h com as pessoas tornou-se um desafio!”
Os profissionais da saúde são os mais afetados pela pandemia, principalmente pelo contato direto com os pacientes, e também por estarem na linha de frente, expostos ao vírus o tempo todo e atendendo “fora de seu horário comercial”
Gloria diz que “se tem uma categoria com predisposição pra Burnout é o profissional de saúde. São muitos casos, e por vezes, casos graves, em que nossa disponibilidade fica além do tempo da terapia semanal. Tem sido necessário disponibilidade em whatsapp, ligações, muitas vezes aos finais de semana. Com isto, cada dia mais importante o profissional cuidar da própria saúde mental, trabalhar limites e manter atualização nos estudos”.
A neuropsicóloga conta que poucas vezes fez o atendimento virtual de casa, até para os pacientes não perderem o foco da terapia.
Ela faz os atendimentos da clínica, onde tem total privacidade, mas nos contou que muitos colegas de profissão improvisaram escritórios e até chegaram a colocar som ambiente na sala pra abafar qualquer possibilidade de quebra de sigilo.
Para Gloria, entrar na casa do paciente é desafiador. Uma vez que a terapia é um processo individual e íntimo, o paciente precisa estar 100% naquele momento, e muitas vezes a terapia compete com alguma atenção “secundária”, como filhos, telefone, alguém entrando no cômodo…
“Nem sempre é adequado: casas com muitas pessoas exigem grandes adaptações. Já cheguei a solicitar que paciente ficasse dentro do carro ou banheiro para garantir ‘isolamento’ e privacidade para nosso atendimento.”
Por fim, a Neuropsicóloga, criadora do instagram @neuropsi.gloriasiqueira, diz que “nesse momento de pandemia, flexibilidade e criatividade foram fundamentais!”.